17 de setembro
A importância do contexto
Da varanda do 303, observo correr pelo asfalto quente um grande lagarto sendo perseguido por uma andorinha, que levanta voo alto e retorna com toda velocidade e bica a cabeça do lagarto, repetindo isso por diversas vezes, eu acho interessante o espetáculo, uma vez, que ele não reage contra e continua a correr buscando uma moita ao lado do meio fio para se proteger, a andorinha corajosa continua a investir sobre ele, atacando a cabeça e as vezes o rabo do Teiú.
Eu nunca pensei que uma andorinha poderia ser tão briguenta, ela não desiste e continua a perseguir o pobre, que com suas pequenas patinhas corre desesperadamente em busca de refúgio, até que ultrapassa, por uma fresta o muro que dá para chácara vizinha, a andorinha por sua vez, voa bem alto e pousa em cima da copa de uma grande árvore e fica observando atentamente tentando encontrar o lagarto que já se escondeu no matagal.
As divergências e conflitos existem em todos os reinos dos que buscam a sobrevivência, contudo, eu passei a divagar sobre o porquê da andorinha estar tão irada com o lagarto?
Algumas suposições surgem em minha mente: será que ele comeu seus ovos? Atacou seus filhotes? Eu não conheço muito de biologia e desconheço a cadeia alimentar do lagarto, mas ao observar fiquei com pena da humilhação do pobre, e acabei por fazer um pré-julgamento, fiquei com pena do dito cujo, afinal , quem está atacando é a andorinha que apesar de ser singela estava muito irada e ataca de maneira implacável.
Eu prejulguei baseado na violência excessiva, parecia ser um ataque sem fundamento. A partir do momento que comecei a refletir sobre o porquê de tal atitude, passei a pensar na importância de conhecer o contexto, antes de julgar.
O ataque parecia díspares, assim, sem entender o contexto, meu julgamento foi leviano, quem era a verdadeira vítima? Qual foi o fato que gerou tamanha ira a ponto de gerar uma ataque de violência.
Nem sempre quem apanha é a verdadeira vítima, precisamos ficar atentos, pois, toda ação produz uma reação. O que gerou tamanha ira na singela e raivosa andorinha? No entanto, quem partiu para violência foi ela, seu ato violento tirou-lhe toda razão, diante do senso comum.
Esse momento me fez recordar de um conflito que presenciei no paraiso das letras, porém optei por não tomar partido por não entender todo contexto.
Todos nós seres vivos têmos as nossas lutas, quem olha de fora, não têm o domínio para julgar uma situação, eu bem sei. Contudo, não me julgue por tomar partido do pobre lagarto, de fato, não sei se ele tem razão.
Não, por favor, não julgue sem ler o texto e entender o contexto, isso é apenas uma pequena reflexão.
Quem de fato é lagarto ou quem é de fato é singela andorinha? Quem de fato tem a razão, eu, o lagarto, ou a andorinha? Será a vírgula? Será o ponto? Quem será? Quais são suas lutas e suas dores?
Não, é apenas uma reflexão, ou apenas uma questão de interpretação.
Por Sonia Maria Alves.